Expansão imobiliária, Jardim Camburi repensa o próprio crescimento

Expansão imobiliária, Jardim Camburi repensa o próprio crescimento

Por qualidade de vida, moradores reivindicam a limitação da altura de novos prédios em até oito andares

O bairro mais populoso do Espírito Santo está repensando o próprio crescimento. Um dos principais focos da furiosa expansão imobiliária que varreu a Grande Vitória na última década, Jardim Camburi sente os efeitos, negativos, de um certo desenvolvimento: inchaço populacional, incremento da frota veicular, trânsito caótico. A qualidade de vida, claro, fica a perigo.

Uma audiência pública na próxima quinta-feira (13), na EMEF Elzira Vivacqua, a partir das 19h, vai começar a debater a revisão do Plano Diretor Urbano (PDU) do bairro e, mais que isso, debater que Jardim Camburi os moradores querem para daqui a 20, 30, 40 anos.

O principal ponto de pauta é a limitação da altura de novos empreendimentos em até oito andares. “Nós não somos contra o crescimento do bairro. Só que se não pensarmos em como deve ser dado esse crescimento, podemos ter problemas futuros. E nós já estamos tendo problemas no presente”, alerta o secretário da Associação de Moradores de Jardim Camburi (ACJAC), Evandro Figueiredo.

E o principal “problema no presente” se manifesta nas ruas: o trânsito. Como se sabe, prédios trazem pessoas e carros. Não é gratuito o vínculo entre a explosão da frota veicular de Jardim Camburi e a expansão imobiliária recente.

Nos horários de pico, os motoristas penam nas principais vias de saída, as ruas Carlos Martins (foto capa), Fortunato Abreu Gagno e José Celso Cláudio, que, por sua vez, desembocam no engarrafamento de todo dia no encontro das avenidas Dante Michelini e Norte-Sul. Entre 7h e 9h é ruim. Mas entre 17h e 19h é pior: o fluxo de entrada no bairro encontra o fim de turno na Vale e a saída de dezenas de ônibus.

O volume extra de tráfego que corta o bairro pelas ruas acima em direção à Serra para evitar retenções de praxe na Norte-Sul também pressiona as vias.

A Prefeitura de Vitória iniciou em junho passado a implantação do Sistema Binário, com alterações em 13 vias. Mas ante as taxas de crescimento populacional de Jardim Camburi – segundo Evandro, cerca de 8% ao ano, enquanto Vitória cresce a 1% – o instrumento não passará de um paliativo. Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Jardim Camburi tinha 23.882 mil moradores; dez anos depois atingiu 39.157 mil. Hoje, destaca Evandro, são 43 mil.

O atual panorama imobiliário da capital capixaba registra uma sensível escassez de terrenos, razão pela qual o empresariado olha gulosamente para Jardim Camburi: é um dos poucos bairros com generosos terrenos disponíveis para o mercado imobiliário e, ainda, com muitas casas residenciais com potencial para dar lugar a novos edifícios, o que já não ocorre tanto em Bento Ferreira, Praia do Canto ou Jardim da Penha.

Como Vitória concentra 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo, a demanda por moradia na capital não deve arrefecer tão cedo. Ou seja, se deixar, o mercado engole Jardim Camburi.

Os dados nos dão uma dimensão da expansão imobiliária na região. Segundo o mais recente Censo Imobiliário do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), de novembro passado, o bairro registra 2.457 unidades em construção. É o triplo do registrado na Região 1 (Praia do Suá, Santa Lúcia e Bento Ferreira), que vêm logo atrás, com 799 unidades em construção.

Um exemplo palpável da situação: um empreendimento residencial que está se erguendo nas imediações do Hotel Canto do Sol. São 18 andares, 396 apartamentos e 1.254 vagas de garagem. Se projetarmos uma média de quatro pessoas por unidade (o clássico pais e dois filhos) Jardim Camburi terá de acolher mais 1.200 pessoas. Hoje há quatro projetos desse calibre em andamento: dois já aprovados e dois em construção.

Daí a demanda por restrição de oito andares em novos prédios. O índice é um ponto de equilíbrio entre a viabilidade econômica e a qualidade de vida. Hoje a construção é limitada em até 20 andares.

A oferta de mais vagas de estacionamento nos novos prédios é outro assunto da audiência. Hoje há muitos moradores com mais carro que vaga de garagem – a maioria deles em prédios com apenas uma vaga. Resultado: carros estacionados na rua. A proposta é tornar obrigatório o aumento de vagas por unidade habitacional.

Outro ponto da audiência é a reserva zonas do bairro para construção de empreendimentos comerciais e não exclusivamente residenciais. A medida reforçaria uma tendência já em andamento: a circulação interna. Hoje a oferta de serviços básicos em Jardim Camburi mantém os moradores no bairro. Em princípio, exemplo singelo, não há necessidade de sair para compras em supermercado.

Não só o trânsito dá a medida do crescimento do bairro. Vide a batalha pela presença física das forças de segurança do estado, que redundou no triunfo da construção da Unidade Integrada de Polícia. Saúde: a única Unidade de Saúde (acima) foi inaugurada há 26 anos, quando Jardim Camburi contava 18 mil habitantes. A população mais que dobrou, mas a unidade continua a mesma.

A vontade de enfrentar os dilemas de hoje em nome do sossego de amanhã é tanta que um abaixo-assinado pela restrição de altura em novos edifícios já roda por aí. Até agora foram colhidas três mil assinaturas. A intenção é chegar em 2015, ano de revisão do PDU de Vitória, com 20 mil.

FONTE Seculodiario.com.br

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